Espero que uma eventual oposição à Emenda Constitucional 95 não seja um retorno ao passado
Bernard Appy (1)
Artigo publicado no jornal Estado de São Paulo,
no dia 20 de março de 2018
A criação de um teto para o crescimento das despesas primárias federais, introduzido pela Emenda Constitucional 95, de 2016, tem gerado uma discussão apaixonada. Para alguns, o teto dos gastos é o ponto central da política fiscal, e deve ser cumprido custe o que custar. Para outros é uma medida inaceitável, que busca apenas reduzir o tamanho do Estado brasileiro. Para terceiros (entre os quais me incluo) é uma medida importante, mas que dificilmente será viável na forma atual, mesmo se for aprovada a reforma da Previdência.
Embora o debate sobre o tamanho do Estado seja inevitável, a discussão sobre o teto dos gastos pode melhorar se entendermos que a medida tem duas dimensões, que podem ser tratadas separadamente.
A criação de um teto para o crescimento das despesas primárias federais, introduzido pela Emenda Constitucional 95, de 2016, tem gerado uma discussão apaixonada. Para alguns, o teto dos gastos é o ponto central da política fiscal, e deve ser cumprido custe o que custar. Para outros é uma medida inaceitável, que busca apenas reduzir o tamanho do Estado brasileiro. Para terceiros (entre os quais me incluo) é uma medida importante, mas que dificilmente será viável na forma atual, mesmo se for aprovada a reforma da Previdência.
Embora o debate sobre o tamanho do Estado seja inevitável, a discussão sobre o teto dos gastos pode melhorar se entendermos que a medida tem duas dimensões, que podem ser tratadas separadamente.
A primeira dimensão diz respeito à necessidade de um limite para a expansão dos gastos federais. Na ausência desse limite, as despesas primárias da União cresceram, em média, mais de 6% ao ano acima da inflação nos 19 anos que vão de 1997 a 2016. Este crescimento extraordinário ocorreu mesmo com a Lei de Responsabilidade Fiscal e com o cumprimento da meta de superávit primário na maioria dos anos do período. Ou seja, a experiência mostra que, sem um teto predefinido, é muito difícil conter o crescimento das despesas no Brasil.
Não se trata de uma trajetória sem consequências. A maior parte da expansão dos gastos no período se deu na forma de despesas rígidas, que não podem ser revertidas em momento posterior. Também é provável que o forte ritmo de expansão das despesas públicas seja um dos principais determinantes das altas taxas reais de juros das últimas décadas.